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Centro Marista de Escoteiros - CME

SOBRE O I MARISTABA

por Lourival Francisco dos Santos Junior

A ORIGEM DA IDEIA DE SE REALIZAR UM ENCONTRO DE GRUPOS ESCOTEIROS DE ESCOLAS MARISTAS
No dia 19 de março de 1966, o Irmão Marcos Amorim, Chefe Escoteiro e membro da Província do Rio de Janeiro, que na época encontrava se em Roma e estava inspirado pelas renovações do Concílio Vaticano II e pelo contato com Irmãos de diversos países, bem como com os superiores, enviou uma carta aos Grupos Escoteiros de Colégios Maristas de todo o Brasil. Essa carta foi uma provocação e um chamamento para união e fortalecimento em nível nacional do Escotismo nos Colégios Maristas, sugerindo incialmente a realização de um Indaba Nacional Marista. Seguem alguns trechos:

No contato com Irmãos vindos de todos os cantos do mundo e com os Superiores, tenho feito algumas observações interessantes: antes de mais nada, a simpatia universal de que desfruta, entre os Maristas, o Escotismo.
Desde o Rvmo. Irmão Superior-Geral, até o mais jovem dos estudantes do Jesus Magister, passando pelo Ir. Vigário-Geral e o nosso Ir. Assistente, ambos antigos chefes e ainda entusiastas. Constata-se ainda que muitos Irmãos lamentam não ter podido obter um conhecimento melhor, ou oportunidade de praticar o Escotismo. A dinâmica de renovação que sopra hoje sobre a Igreja insiste muito sobre a penetração da palavra de Deus. Ora, um estudo mais acurado das bases de nosso Movimento (Escoteiro) me deixa cada vez mais forte a convicção de que a melhor base de Evangelização e fermentação da “Massa estudantil” é um BOM GRUPO ESCOTEIRO. Assim, antes mesmo de tornar ao Brasil, já quero avançar algumas ideias que possam dinamizar o Movimento no Brasil Marista.
Sua experiência já deve ter mostrado, com efeito, que nosso Escotismo está longe de ser o que deveria, portanto longe de produzir os frutos que dele se espera. Com nossa rede espetacular de Colégios, se conseguirmos formar em cada um deles um bom núcleo, poderemos efetuar um bem imenso. O Concílio, de fato, sempre que se refere aos leigos, insiste principalmente nas qualidades de liderança e senso de responsabilidade pessoal, qualidades que constituem a essência mesmo do Escotismo.
Aqui vão, pois, algumas ideias para realização imediata:
Realização, em janeiro de 1967, de um Ajuri-Indaba Nacional Marista.
Estudar fórmulas e planos que nos permitam enviar ao Jamboree dos EUA, pelo menos uma Tropa Marista (nota do autor: trata-se do 12º Jamboree Escoteiro Mundial, realizado de 31 de julho a 9 de agosto de 1967, no Farragut State Park, localizado nas Rocky Mountains de Idaho, Estados Unidos).

Podemos dizer que a carta surtiu efeito. Em janeiro de 1967, a organização do Curso de Espiritualidade Marista, no Colégio Marista Maceió, em Maceió/AL, com duração de 30 dias, aproveitando que o curso reuniria Irmãos de todo o Brasil, destinou a última semana (de 22 a 28) para a realização da primeira Indaba Marista do Brasil, ou seja, o primeiro encontro nacional de Irmãos Maristas Chefes Escoteiros, sob a coordenação do Irmão Marcos Amorim. Uma das metas definidas no Indaba foi a realização de um Ajuri Zonal (Norte – Sul – Centro). 

Participantes da I Indaba Marista do Brasil, em janeiro de 1967, em Maceió/AL, da esquerda para a direita, identificamos os seguintes Irmãos Maristas: Sentados: Dionysio Tonial, Casildo Klein, Marcos Amorim, NI, NI, NI, Fábio Pauletto, Theobaldo Sausen. Logo atrás, em pé: Leonardo Machado, Sireno Conti, NI, José Pereira Lima, NI, NI, NI, Carlos Borges e Mário Ervino Puhl. Fonte: Acervo pessoal de Mário Ervino Puhl. (foto 57a)

O ÍNICO DA ORGANIZAÇÃO DO I MARISTABA E O SIGNIFICADO DO NOME DA ATIVIDADE

Então, desenvolvendo as ações para atingir as metas definidas na I Indaba Marista do Brasil, os Irmãos Fábio Pauletto e Mário Ervino Puhl assumiram a responsabilidade de organizar um Ajuri Zonal, no caso Zona Sul Marista, para reunir os Grupos Escoteiros de Colégios Maristas dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Foi uma organização que exigiu muita dedicação desses Irmãos, que tiveram que conciliar, com suas atividades de professores no colégio, toda preparação, correspondências, busca por patrocinadores, programação, elaboração de materiais como folhas, envelopes e certificados timbrados com o nome e logotipo do evento (feitos na Gráfica Champagnat pelo Irmão Mário Puhl), distintivos, lenços, troféus, alimentação, transporte, local para a atividade etc. 
Lembrando ainda que, naquela época, não existiam as facilidades de comunicação dos dias de hoje. Segue trecho da carta de 22 de maio de 1967, do Irmão Dionysio Tonial, então chefe do Grupo Escoteiro Guaracy, de Farroupilha, em resposta à carta do Irmão Fábio Pauletto:

Com a saída do Irmão Mário (Ervino Puhl) de Novo Hamburgo, acho que se tornou mais difícil para nos entrosarmos melhor, pois ele seria de grande valia uma vez que era chefe Distrital e podia melhor movimentar o interior.
Nós, aqui do interior, estamos um tanto afastados dos demais Grupos Escoteiros e, por isso, a nossa ação é quase insignificante.
Recebi ontem uma carta do Irmão Sérgio Klein (Irmão Casildo Klein, chefe do Grupo Escoteiro São Luiz, do Colégio São Luís de Santa Cruz do Sul) mas nada relatou do pensamento dele a respeito do encontro de Chefes e Zonal.

O nome veio da junção dos termos MARISTA + TABA (taba = aldeia em tupi-guarani), ou seja, ALDEIA MARISTA.

A ESCOLHA DO LOCAL DO I MARISTABA, A DIVULGAÇÃO E O TEMA DO EVENTO
O local escolhido, Fazenda Guajuviras, no município de Canoas, havia sediado um grande acampamento para a comemoração dos 60 anos da fundação do Escotismo, no início de agosto de 1967, chamado de Mini Jamboree e que reuniu Grupos Escoteiros de Porto Alegre, entre os quais o Tupandi, sob a chefia do Irmão Fábio Pauletto, que logo identificou o local como sendo adequado para a realização do Maristaba.
A Circular nº 1 foi emitida em 19 de agosto de 1967, apresentando as primeiras informações sobre a organização, direção, local e programa do Maristaba, destacando que este seria realizado nos moldes do Acampamento Internacional de Patrulhas (AIP), com campo, subcampos, tropas e patrulhas, havendo atividades gerais alternadas com as de subcampos.
Em 26 de outubro de 1967, o Irmão Fábio Pauletto emitiu a Circular nº 2 aos Chefes de Grupos e Tropas para o evento, fazendo um novo chamamento para que participassem do evento, informações sobre o local, tema central da Maristaba e andamento da organização. Ainda, enviou cartazes de propaganda. Seguiram-se outras circulares para motivar e informar sobre o evento. No material de divulgação, os organizadores explicavam um pouco sobre o tema da Maristaba “Servir e Sorrir”:
 
“O sorriso e a Boa Ação são nossas características; a falta delas no mundo são a causa de muitos males sociais”.
São essas as palavras com que B. Powell sintetiza sua genial criação: O Grande Jogo do Escotismo. SERVIR e SORRIR globalizam esse pensamento. Será também SERVIR e SORRIR o tema do Maristaba.
Acampar, excursionar, cozinhar em campo, jogar, escalar são atividades comuns a pescadores, excursionistas, Escoteiros e esportistas; todas têm um objetivo comum: DIVERTIR. Nós queremos algo mais nessa confraternização, queremos desenvolver o Servir e Sorrir pregado por Cristo, Champagnat e B. Powell. Nosso Maristaba será algo mais que um simples acampamento; será um centro de interesse, uma motivação para desenvolver nos jovens de nossas tropas os hábitos da boa ação, da amizade, da alegria pura e da nobreza de convicções.
Essas duas palavras sintetizam muito:

SERVIR – Lembra o hábito da boa ação diária, do Escoteiro sempre alerta para ajudar o próximo, da caridade evangélica, da solidariedade humana. Lembremo-nos, nós, chefes, de que, ao pretendermos educar, estamos ensinando a viver, à imagem da vida. Aventura, alegria, acampamento são meios; homens de caráter é o objetivo.
SORRIR – O sorriso exprime integração na comunidade, no ambiente social. Sorrir é o atestado de uma consciência pura, simples e comunicativa.

Hoje, mais do que nunca, os métodos pedagógicos preconizam amplamente a teoria de orientar todas as atividades educacionais no sentido de integrar o educando no ambiente social através dos trabalhos em grupo, pois é no sorrir que podemos ler tudo isso. Façamos com que nossos garotos realmente confraternizem nesse Maristaba, estendam bem longe seu círculo de amizades.
Junto a esse tema, surgem os seguintes objetivos a alcançar:

Confraternização dos Escoteiros Maristas – Zona Sul;
Preparação para um Grande Acampamento Nacional;
Comemorar o 150º aniversário da Congregação;
Complementar a educação da escola pelo incremento da observância da LEI ESCOTEIRA.
(Material de divulgação da 1ª Maristaba).


Programa da 1ª Maristaba, 1968. Material mimeografado preparado pelos Irmãos Mário Ervino Puhl e Fábio Pauletto. Fonte: Acervo pessoal do autor. (foto 58)

Certificado de Participação na 1ª Maristaba recebido pelo Irmão Sireno Romano Conti, 1968. Impresso pelo Irmão Mário Puhl na Gráfica do Colégio Champagnat. Fonte: Acervo do Arquivo Provincial da Província Marista Brasil Sul-Amazônia. (foto 60)

Lenço da 1ª Maristaba de 1968, confeccionado artesanalmente pelos organizadores do evento. Fonte: Acervo do antigo escoteiro Tupandi; foto de João Cavedini. (foto 61 b)


PARTICIPANTES DO I MARISTABA

Participaram da Maristaba os seguintes Grupos Escoteiros dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná (de acordo com o relatório da atividade):
Guaracy – Colégio São Tiago – Farroupilha/RS (com 22 escoteiros, 2 chefes, sendo um Irmão Marista);
Tocantins – São Leopoldo/RS (com 5 escoteiros) (nota do autor: não identificamos vínculo com Colégio Marista, provavelmente são escoteiros cujos chefes auxiliaram na equipe que desenvolveu a Maristaba, esse tipo de ajuda mútua é comum no Movimento Escoteiro).
Tupandi – Colégio Marista São Pedro – Porto Alegre/RS (com 25 escoteiros, 4 chefes, sendo um Irmão Marista).
- São Jorge – São Luís/MA (com 5 escoteiros) (nota do autor: pode se tratar do mesmo Grupo que participou com 8 seniores na I Indaba Marista do Brasil, não conseguimos identificar de qual colégio fazia parte).
Pindorama – Colégio Marista Santa Maria – Santa Maria/RS (com 8 escoteiros, 3 chefes, sendo 3 Irmãos Marista).
Cariris – Colégio Nossa Senhora da Conceição – Passo Fundo/RS (com 17 escoteiros, 3 chefes, sendo 3 Irmãos Marista).
Pio XII – Colégio Pio XII – Novo Hamburgo/RS (com 12 escoteiros, 1 chefes, sendo um Irmão Marista).
Marcelino Champagnat – Colégio Paranaense – Curitiba/PR (com 6 escoteiros, 2 chefes, sendo 2 Irmãos Marista).
John Kennedy – Colégio São Bento – São Bento do Sul/SC (com 12 escoteiros, 3 chefes, sendo 3 Irmãos Marista).
Tangará – Colégio Marista Criciúma – Criciúma/SC (com 14 escoteiros, 2 chefes, sendo um Irmão Marista).
Tupã-Ci – Colégio Nossa Senhora do Rosário – Porto Alegre/RS (com 12 escoteiros, 2 chefes, sendo um Irmão Marista).
Sol – Goiânia/GO (com 2 escoteiros, 1 chefe, sendo um Irmão Marista) (nota do autor: esse Grupo Escoteiro provavelmente era do Colégio Marista Goiânia, porém não consegui essa confirmação).

Participaram ainda mais 11 chefes, sendo 5 Irmãos Maristas. Fizeram parte da equipe de direção da Maristaba (de acordo com o Boletim de Campo):
Coordenador: Irmão Fábio Pauletto
Secretário: Irmão Mário Puhl
Tesoureiro: Irmão Fábio Pauletto
Recepção e passeios: Irmão Antônio Camilotto
Intendência: Irmão Nelson Sabadin, Ernesto Wildner e Armando Krieger
Chefe de Campo: Irmão Dionysio Tonial
Fogo de Conselho Geral: Irmão Mário Puhl
Abastecimento de água: Dr. Francisco Mazzotti
Restaurante da chefia: Irmão Luiz Carlos Rocha
Documentário fotográfico: Irmão Mário Puhl
Bar: Júlio Garcia Plaza
Serviço Religioso: Pe. Ilvo Rossatto 

Foto geral do pórtico com os participantes da I Maristaba – Confraternização da Região Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) de escoteiros de Colégios Maristas, realizada de 4 a 10 de janeiro de 1968, na Fazenda Guajuviras, Canoas/RS. Fonte: Acervo pessoal de Mário Ervino Puhl; foto de Mário Ervino Puhl. (foto 62)

Hino da I Maristaba, 1968. Versão revisada em 2021 pelo professor Estêvão Grezeli, do Colégio Marista Rosário, de Porto Alegre. Fonte: Acervo pessoal do autor. (foto 66 A)

O I Maristaba foi um grande exemplo de organização de atividade, com muitos detalhes pensados e colocados em prática, uma atividade digna dos grandes eventos nacionais escoteiros. Dessa forma, os escoteiros de Colégios Maristas do Rio Grande do Sul cumpriram, com meta definida na Indaba Marista de Maceió, organizar um evento para a Zona Sul do Brasil. Não foi encontrado registro ou depoimento que indicasse a realização de encontro nacional. Posteriormente, em 2005, o nome dessa atividade foi resgatado pelos Grupos Escoteiros de Colégios Maristas, sendo realizada o II Maristaba, em 2007, em Curitiba/PR, reunindo Grupos de Escolas Maristas de todo o Brasil. Ainda em 2007, os antigos escoteiros Mário Ervino Puhl e o Irmão Fábio Pauletto foram homenageados com a Medalha Gratidão Grau Bronze da União dos Escoteiros do Brasil, pela dedicação que tiveram durante sua atuação no Movimento Escoteiro. No III Maristaba, realizado em 2009 em Viamão/RS, o Irmão Fábio Pauletto, organizador do primeiro encontro, participou como convidado.

Mário Ervino Puhl e o Irmão Fábio Pauletto no dia em que receberam a Medalha de Gratidão no Grau Bronze, na sede da APAMECOR (Associação de Pais e Mestres do Colégio Marista Rosário), em 28/10/2007. Da esquerda para direita: Irmão Elto Puhl, Mário Puhl, Lourival dos Santos Junior, Irmão Fábio Pauletto e Irmão Roque Puhl. Fonte: Acervo do Grupo Escoteiro Tupã-Ci; foto de Roberto Luiz Martins Riche. (foto 74)


1º - 1968 - 04 a 10/01 - Canoas-RS Fazenda Guajuviuras (não teve distintivo)
2º - 2007 - 20 a 22/07 - Almirante Tamandaré-PR (Parque Santa Maria)
3º - 2009 - 24 a 26/07 - Viamão-RS (Instituto Marista Graças) Ser Feliz é o que Importa
4º - 2011 - 22 a 24/07 - São Paulo-SP (Arquidiocesano) Sampo 24 horas
5º - 2013 - 15 a 17/11 - Rio de Janeiro-RJ (Colégio Marista São José) Porque a vida é maravilhosa
6º - 2016 - 23 e 24/07 - Porto Alegre-RS (Colégio Marista Ipanema) Cultura e diversão
7º - 2017 - 28 a 30/07 - Curitiba-PR (Colégio Marista Sta. Maria) Com que roupa eu vou
8º - 

Sobre os atuais Grupos Escoteiros de Colégios Maristas:

- 12/ES - Marista - Colégio Marista - Colatina - ES: data de função: 28/11/2003
- 19/MG - São José - Colégio Marista São José - Montes Claros - MG: data de fundação: 10/05/1969
- 111/PR - São Marcelino Champagnat - Colégio Marista Santa Maria - Curitiba – PR: data de fundação: 20/05/2000
- 186/PR (Colégio Marista Cascavel, Cascavel), fundado em 18/05/2013.
- 76/RJ - Nossa Senhora Medianeira - Colégio Marista São José - Rio de Janeiro - RJ: data de fundação: 24/11/1957, está sediado no Colégio Marista São José desde o ano 2000.
- 04/RS - Tupã-Ci - Colégio Marista Rosário - Porto Alegre - RS: data de fundação: 04/11/1941
- 56/RS - Marechal Osorio - Colégio Marista Ipanema - Porto Alegre - RS: data de fundação: 13/06/2009, está sediado no Colégio Marista Ipanema desde agosto de 2009
- 301/RS - Marista Irmão Dionysio Tonial - Instituto Marista Graças - Viamão - RS: data de fundação: 01/06/2002
- 393/RS - Marista São Luís – Colégio Marista São Luís - Santa Cruz do Sul - RS - fundado em 18/08/2018
- 200/RN - do Mar Bons Ventos - Colégio Marista Natal - Natal/RN - fundado em 22/02/2022.
- 222/SP - Padre Marcelino Champagnat – Colégio Marista Arquidiocesano - São Paulo/SP, fundado em 14/04/1991
- 12/TO – Paralelo 10 - Colégio Marista – Palmas - TO - fundado em 15/08/2015


atualizado em 08/01/2023

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