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Godofredo Vidal


        Godofredo Vidal        



Major-Brigadeiro Godofredo Vidal 
    Desde muito jovem nossa família se reunia num almoço no dia 21 de julho para comemorar o aniversário de Tia Nadia, irmã do "Godô", como era tratado o Godofredo no ambiente familiar. Recordo-me perfeitamente da união dos irmãos num clima prazeroso e amigo. O apartamento pertencera ao General Alfredo Vidal, pai dos nove filhos, e ficava na esquina da Rua Bolívar com  a  a Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Todos as varões da família seguiram a carreira militar no Exército Brasileiro. Até hoje correspondo-me regularmente com o Germano (1) (81), filho do Godô e a minha prima Georgette (87) sobrinha do Godofredo. Encontrei-o duas ou três vezes, quando ia a sede da UEB no centro do Rio de Janeiro.
     
    No dia 28 de abril de 1938, o então Major Aviador Godofredo Vidal, o Tenente-Coronel Aviador Vasco Alves Secco e o 1º Sargento Telegrafista da Aeronáutica Jayme Janeiro Rodrigues, na época servindo no 5º Regimento de Aviação do Exército, atual CINDACTA II, em Curitiba, oficializaram à União dos Escoteiros do Brasil a criação da primeira Associação de Escoteiros do Ar em todo o mundo – Associação de  Escoteiros do Ar Tenente Ricardo Kirk.

   Três anos mais tarde, com a criação do Ministério da Aeronáutica em 20 de janeiro de 1941 reunindo a Aviação Militar do Exército e a Aviação Naval da Marinha de Guerra, foi proposto a 19 de abril de 1944, a criação da Federação Brasileira de Escoteiros do Ar, a qual congregaria todos as Associações Escoteiras que desenvolviam essa modalidade. Na época eram muito poucas, restringindo-se aos Estados do Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo.

   Foi tamanha a expansão registrada por essa nova modalidade que, em 26 de julho de 1951, o Brigadeiro Nero Moura, então Ministro da Aeronáutica, reconhecendo seus valiosos objetivos entre eles o de incentivar o interesse dos jovens pela aeronáutica, que determinou que todas as unidades da Força Aérea Brasileira dessem total apoio às Associações de Escoteiros do Ar (2), o que acontece até os dias presentes.
O fundador do Escotismo do Ar, Major Aviador Godofredo Vidal, nasceu em 3 de outubro de 1894 no Rio de Janeiro (3). Seu avô, Engenheiro José Maria Vidal, combateu na Guerra do Paraguai e seu pai, o General Alfredo Vidal, foi o fundador do Serviço Geográfico do Exército, no bairro de São Cristóvão, na cidade do Rio de Janeiro, tendo sido ainda o introdutor do processo estereofotogramétrico no Brasil.

“Apoiado pelo saudoso General Bento Ribeiro, Prefeito da Capital Federal e depois Chefe do Estado Maior do Exército, bem como pelo General Vespasiano de Albuquerque, Ministro da Guerra, o Major Alfredo Vidal foi se instalar no velho Forte da Conceição, onde até 1917 se alojavam os contingentes de voluntários vindos do Norte, com destino aos corpos das regiões militares do Sul do Brasil
Nessa ocasião o Major Alfredo Vidal, animado com a experiência que já havido feita na Prefeitura do Distrito Federal, sob sua orientação, achou conveniente trazer para o Brasil um grupo de técnicos do Instituto Geográfico Militar de Viena.. A derrocada da Áustria, no final da primeira grande guerra, tornou possível essa providência, com a qual inauguramos uma nova fase de nossas atividades cartográficas.
Foi então criado o Serviço Geográfico Militar, a título de experiência, no Morro da Conceição. Em 1921 esse Serviço era um lugar de intensa e útil atividade. Preparavam-se ali muitos de nossos camaradas, jovens oficiais de todas as armas, para o levantamento da Carta do Distrito Federal. Essa carta foi de fato iniciada nesse ano e terminada em 1922.” (4) 
Como primogênito dos nove filhos (Godofredo, Euglena, Nadia, Glorinha, Helena, Edmundo, Alfredinho, Celina e Jorginho) do casal Alfredo Vidal e Izabel de Paiva Rio Vidal. (5)
Após cursar o Colégio Militar, no Rio de Janeiro, foi mandado pelos pais para estudar Engenharia na Suíça, onde se dedicou por dois anos a estudos e fez estágios em fábricas européias. Retornando ao Brasil durante a Primeira Guerra Mundial, matriculou-se na Escola Militar do Realengo, da qual saiu em 1921 como Aspirante à Oficial da Arma da Cavalaria. Com o entusiasmo da mocidade, dedicou-se ao pólo nos primeiros ensaios do Órgão Desportivo do Exército, integrando inclusive, a equipe brasileira desse nobre esporte quando em visita ao Chile.
   Nos devaneios dos sonhos de novas conquistas, matriculou-se na segunda turma do Curso de Pilotos Observadores da antiga Aviação Militar, então recém criada.
Em 1927, concluiu o curso de piloto realizado na Escola de Aviação Militar, conquistando o brevê de aviador.
Em 1928, foi nomeado instrutor da Escola de Aviação Militar por indicação da Missão Militar Francesa.  
    Em 1931 (6), juntamente com o então Capitão Archimedes Cordeiro e o Primeiro Tenente Francisco de Assis Corrêa de Mello, partiu em vôo de confraternização pelas Américas, em um monomotor bombardeiro Amiot, de fabricação francesa, batizado como "Duque de Caxias". Este avião era um enorme bi-plano com entelagem de lona e carlinga descoberta, constituindo-se um desafio à coragem de seus tripulantes. A fatalidade fez com que um defeito mecânico obrigasse a realização de uma aterrissagem forçada entre as cidades de Guaiaquil e Quito, em plena Cordilheira dos Andes. Os tripulantes permaneceram sem contato com a civilização durante três dias até serem socorridos pelos nativos. O Primeiro Tenente Francisco de Assis Corrêa de Mello foi o mais ferido, tendo sofrido extensas fraturas e queimaduras.


          Avião "Duque de Caxias", modelo Amiot 122bp3++, fabricação francesa. (7)             

   Enquanto se convalescia dos ferimentos do acidente com o "Duque de Caxias", o Coronel Aviador Godofredo Vidal matriculou-se no curso livre de pintura da Escola de Belas Artes, tendo pintado na época vários quadros. Incapaz para o vôo durante o seu longo tratamento, dedicou-se ao magistério secundário, sendo professor do Instituto Lafayette na Tijuca e do Colégio Anglo Americano na Praia de Botafogo, ambos no Rio de Janeiro. Dominava com perfeição vários idiomas, falando corretamente alemão, francês, espanhol e inglês, e por isso tinha situação privilegiada entre os seus pares.

   O Coronel Aviador Godofredo Vidal foi também um dos pioneiros do Correio Aéreo Militar, voando com todos os abnegados precursores pelo sistema "Arco e Flecha", na devassa patriótica dos nossos rincões, com os olhos presos às curvas dos rios, aos acidentes planimétricos e, até mesmo, aos dísticos dos telhados das estações das estradas de ferro, como pontos de orientação das rotas de vôo.

   Em 1934 fundou e organizou o Serviço Meteorológico Militar, instalando-o no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Por seus dotes de cultura e sociabilidade foi indicado para representar o Brasil nos seguintes conclaves internacionais: III Conferência Sul Americana de Meteorologia em 1936 no Rio de Janeiro Conferência Sul Americana de Radiocomunicações também em 1936 no Rio de Janeiro e a Conferência Interamericana de Aviação em Lima, no Peru, em 1937..

   Em 1941 sofreu um grave acidente aviatório escapando milagrosamente com os demais tripulantes. Foi durante um vôo noturno juntamente com o então Tenente Coronel Carlos P. Brasil e o Capitão Rosemiro Menezes. Ao se aproximar do Campo dos Afonsos, na altura de Honório Gurgel, o avião perdeu a hélice, mas conseguiu chegar à cabeceira da pista, que estava às escuras. Com incrível perícia, o piloto, o Capitão Rosemiro Menezes fez a aterrissagem onde todos os tripulantes sobreviveram apesar do avião ficar praticamente destruído. As estatísticas diziam que as chances de sobreviver a um acidente desses era de uma em mil. Por ironia do destino, três meses depois o Capitão Rosemiro morreu de malária, da qual falece um em cada mil doentes...
   Em 1942, o Coronel Aviador Godofredo Vidal cursou a Escola do Estado-Maior do Exército, dela saindo para integrar o quadro de instrutores da Escola de Guerra Naval, vindo posteriormente a colaborar para a criação da Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica, da qual foi o primeiro Subdiretor de Ensino. Nos Estados Unidos cursou a Escola Superior de Tática Aérea, em Orlando na Flórida, realizando estágios de instrução na Aviação Naval Americana e na Força Aérea dos Fuzileiros Navais.

   Ainda durante a II Guerra Mundial participou do patrulhamento aéreo do Atlântico Sul visitou as principais bases aéreas dos Estados-Unidos na Comitiva do Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, o Brigadeiro Trompowski e dirigiu o Curso de Defesa Passiva da Legião Brasileira de Assistência, realizando memoráveis conferências.

   Em 1948, no posto de Coronel, Godofredo Vidal transferiu-se para a reserva, sendo posteriormente promovido à Brigadeiro e Major-Brigadeiro do Ar.


Chefe Godofredo Vidal com Pioneiros em Santos/SP. (8) 




   Foi ele também o criador da Semana da Asa através da Comissão de Turismo Aéreo do Touring Clube do Brasil, a qual presidiu por muitos anos. Dedicou-se às radiocomunicações como amador com o indicativo PY-1-AT e participou da direção da entidade Nacional que rege o radioamadorismo, a LABRE.
   Na reserva não parou a sua incansável atividade, dedicando-se aos estudos de Geografia e História, escrevendo artigos e monografias e realizando conferências no Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. Entre seus trabalhos destacam-se os seguintes: "Próceres da Independência da América", "Estudos de Geopolítica", "Batalhas Aeronavais da Última Guerra", e a tradução do original italiano da obra clássica de Douhet, "O Domínio do Ar".
   Exerceu a Vice-Presidência do Instituto de Geografia e História Militar, onde ocupou a cadeira 13, patrocinada por Bartolomeu Lourenço de Gusmão, de quem fez interessante estudo biográfico, ainda inédito. Integrou também os quadros dirigentes do Instituto Brasileiro de Geopolítica. Foi membro correspondente da Sociedade de Geografia de Lima (Peru) e do Instituto Geográfico Histórico da Bahia. Pertenceu também à Academia Valenciana de Letras.
Dirigiu o Museu Santos Dumont de Petrópolis, instalando-o na casa onde Santos Dumont residira e dera mostras do seu genial talento, inclusive como arquiteto e construtor.
  
Faleceu após curta doença, no dia 8 de dezembro de 1958, deixando viúva D. Beatriz Seidl Vidal (prima do Chefe Raul Tinoco Seidl, os dois filhos Tenente Coronel de Artilharia do Exército Germano Seidl Vidal, herói da Segunda Guerra Mundial e o Senhor Hélio Carlos Seidl Vidal.

COMO EU LEVO A VIDA

Eu levo a vida no maior desleixo:
Quanto mais sofro mais ainda canto
Não suplico - não choro- não me queixo.

Que importa que ela amargue e doa tanto?
Que adianta blafesmar porque há pesares?
Mais vale neles - procurar encanto!

Amo a flor, amo a lua, o sol e os ares,
Amo a ti - tudo mais rolar eu deixo
E assim, sem ambições particulares,

Eu levo a vida no maior desleixo . . .

                                 Godofredo Vidal

   
Referências Bibliográficas
(2) Somente com a implantação do P.O.R. em 1961 é que as "Associações Escoteiras" passaram a ser denominadas "Grupos Escoteiros".
(3) A esposa da irmã de Godofredo, Nadia era casada com o irmão caçula de minha avó paterna, George Carlos Mallemont. Em conversa com sua avó Elza, a neta mais velha Georgette Mallemont  teria lhe confidenciado que, por causa dos dois anos passados na Suíça, Godofredo teria perdido a possibilidade de ingressar na a Escola Militar do Realengo. A solução seria uma nova Certidão de Nascimento que o rejuvenescesse um ano. Como o General Alfredo Vidal, seu pai, tinha servido recentemente em Bagé, no Rio Grande do Sul, conseguiu no Cartório dessa cidade, uma nova data que fez com que Godofredo não só rejuvenescesse um ano, mas também mudasse de naturalidade, passando de Carioca (de fato) para Gaúcho (por conveniência).
(4) http://www.feth.ggf.br/SERVIGEOEX.htm em 06/11/2007 às 16,04 horas.
(5) VIDAL, Germano Seidl. Ídolo sem platéia, Rio de Janeiro, Germano Seidl Vidal, 1995.
(6) Em 11 de setembro de 1931, uma aeronave Amiot 122 tripulada pelo Capitão Arquimedes Cordeiro, 1º Tenente Francisco de Assis Corrêa de Mello e 1º Tenente Godofredo Vidal, decola do Rio de Janeiro, iniciando um ride pelas capitais da América do Sul. Da capital gaúcha rumou para Assunção, Montevidéu, Buenos Aires, atravessou a Cordilheira dos Andes até Santiago, seguiu para La Paz e Lima. Ao passar por Arica, no Chile, O Tenente Mello não pode prosseguir devido a problemas de saúde. Em La Paz, o Tenente Orsini de Araújo Coriolano integra a equipagem. A 4 de novembro, decola de Lima, mas não consegue chegar a Quito; um defeito no leme de direção obriga a um pouso de emergência a 100 quilômetros da capital do Equador, ocorrendo somente a perda total da aeronave.
(7) Amiot 122 BP3 – Aeronave empregada em missões de bombardeio, biplano, três tripulantes, equipada com motor Lorraine 18KD de 650 hp, velocidade máxima de 205 km/h, tempo de 29min50seg para subir a 15.000 pés, teto de serviço de 19.000 pés, alcance de 1.000 km. Podia ser armada com 2 metralhadoras Vickers .30 no capô sincronizada com a hélice, 2 Lewis 7,7 mm, geminadas, móveis, na nacele traseira, e outra ventral, e levar 800 kg de bombas.. Foram utilizadas no período de 1931 a 1936. às 18,00 horas de 06/16/07 http://www.reservaer.com.br/galeriahonra/aviacaomilitar/(22)potez25toe.html 
(8) Revista "Alerta!", Editora Escoteira da UEB, nº 67, Maio /Junho 1957, página 2.
                                                                                                                             por Moacyr Mallemont Rebello Filho

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